CARLOS BATALHA: “CASOS E CAUSOS DO COTIDIANO!”

Como estamos em período junino, a maior festa do nordeste brasileiro, e porque não dizer a maior festa brasileira, suplantando até mesmo o carnaval que tem força em algumas cidades a exemplo de Salvador, Rio de Janeiro, Recife, São Paulo e algumas outras, mas nem de longe chega ao poderio da atual estação, onde em qualquer estado, cidade ou povoado do país podemos encontrar as comidas típicas, os fogos de artifício, as fogueiras, os fogos, o licor e o famoso arrasta-pé sob o som das sanfonas, triângulos e as zabumbas.
Vamos então aqui desta coluna contar alguns CAUSOS que ouvimos  dos nossos avós, pais, e outras que vivenciamos.
LAMPIÃO BOM DE FORRÓ
Na década de 30, Virgulino Ferreira, mais conhecido como Lampião, comandava um bando denominado de cangaceiros, bando este que aterrorizava as cidades por onde passava.
O nordeste inteiro era varrido pelos cangaceiros que sob o comando de Lampião e de sua mulher, Maria Bonita, assaltavam, matavam e cometiam as mais diversas atrocidades. Por tudo isso o bando era muito temido e sua chegada a uma cidade era um Deus nos acuda.
Contava meu avô Antoninho, que certa feita, período de São João, o forró corria solto em uma cidadezinha do interior baiano, quando alguém chega à porta e grita “pessoal Lampião morreu”. Foi uma zoeira total. Festa, abraços, beijos, gritos de viva, quando o sanfoneiro puxa o fole e começa a tocar e cantar “Oi Lampião morreu, oi que coisinha boa, oi Lampião morreu oi que coisinha boa”.
De repente, o ritmo da sanfona diminui, o triangulo dá dois ou três tinguilingues e o surdo apenas duas batidas,bum,bum.
Todos olham para a porta e lá estava Lampião, Maria Bonita, Volta Seca, Cabeleira, Silvino, e outros cangaceiros. Tumulto geral. O Rei do Cangaço então grita.”ninguém sai daqui e o maestro continua tocando essa musiquinha bonitinha que gostei”.
O maestro se tremendo todo, de forma bem compassada volta a tocar “Laammpiião mmoorreuuu, oh queee coisinhaaa boa”. Lampião chama um crioulo de uns dois metros de altura olha para os pés dele e pergunta. “que número você calça?”. Vem a resposta 44. Então ele chama um baixinho e faz a mesma pergunta sobre o número que calçava e recebe a resposta. 36.
Virgulino Ferreira  chama o grandão que calçava 44 e mandou usar o número 36. Imagine o sufoco.
 O dançarino encolheu os dedos pra lá pra cá, quebrou as falanges  até que os pés entraram.
Lampião então ordenou que o maestro puxasse o fole e mandou o negão dançar sem parar.
Lá para as tantas, com os dois pés do grandão em sangue vivo, com os pés esfolados, Lampião pergunta empunhando uma baioneta no pescoço do coitado, “e aí está apertado o sapato?” Tremendo de medo, o dançarino responde. “não senhor. tá frouxinho,  frouxinho”.
 E assim, o arraiá  rolou até as primeiras horas da manhã.
Pelo que se comentou à época, após a tortura, o grandão foi obrigado a amputar os dois pés que ficaram praticamente destruídos após serem ralados por várias horas em um cimento grosso.
O ZABUMBEIRO FUROU A ZABUMBA
Outro CAUSO de Lampião.
O Capitão Virgulino Ferreira chegou em uma determinada cidade do interior da Bahia(preservo daqui o nome porque muita gente que viveu aquela época ainda está entre nós), fez o que queria fazer nas visitas a armazéns, casas comerciais e residências, e foi logo avisando que gostaria de ouvir um forró a noite inteira.
Pedido feito, pedido atendido.
Na hora marcada lá estava todo o bando de Lampião e algumas moças que o chefe mandara “convidar” pelas redondezas.
Começado o forró, e o capitão logo notou que o zabumbeiro estava de má vontade.
O tempo foi passando, os cangaceiros se arrumando e Lampião ali com Maria Bonita.
Em uma determinada hora, ele dá um tiro pra cima e aos gritos avisa que a festa terminara. Ufa, alívio, menos para o zabumbeiro.
Lampião olhando para o teto, ver uma arandela imensa pendurada e ordena. “zabumbeiro sobe lá, mete as pernas entre os candeeiros, senta-se e vai embalar meu sono até quando eu acordar. Tem que ser no ritmo compassado.” bum,bumbum,bum,bumbum,entendeu”? E assim foi feito.
Detalhe. A ordem para o zabumbeiro foi por volta das 4hs da manhã, e Lampião só saiu do quarto após 17hs.
O homem do tambor estava vivo, mas com as mãos esfoladas, e o que é pior. As suas partes íntimas estavam todas queimadas, em carne viva, porque um dos candeeiros ficou exatamente entre sua pernas. Ui. Chega a doer só de pensar.
ROGÉRIO SE ANTECIPOU AOS FATOS
O nosso querido cantor Rogério, que nos deixou precocemente, foi um dos maiores divulgadores do estado de Sergipe no que diz respeito a nossa música.
Durante a década de 70, o nosso querido estanciano era presença obrigatória no programa Show da Xuxa, exibido pela Rede Globo. Rogério participava dos programas da baixinha não só nas gravações no Rio de Janeiro como também em excursões pelo Brasil, sempre divulgando o nosso estado.
Mas foi na década de 90, logo no seu início, que Rogério deixou definitivamente registrado o seu nome na história da nossa música ao compor SERGIPE É O PAÍS DO FORRÓ.
Na realidade, Rogério teve uma premonição.
Sergipe à época estava muito longe de ser o país do forró.
Exceto a Rua de São João, Aracaju por exemplo só contava com as fogueiras nas portas das casas e reuniões de famílias.
O interior do estado contava com Estancia e os barcos de fogo, espadas, etc, Cristinápolis se esforçando para fazer um São João bonito, o mesmo acontecendo com Rosário, Capela e Muribeca. Tudo parava por aí.
Talvez no embalo do sucesso de Rogério, Jackson Barreto então prefeito de Aracaju lançou o Forró Caju. João Alves enquanto governador lançou a Vila do Forró. Ele próprio enquanto governador saiu construindo forródromos a exemplo dos de Estância, Areia Branca, Itaporanga e outros.
CARLOS BATALHA: “CASOS E CAUSOS DO COTIDIANO!”
Aí sim. Os festejos juninos explodiram de uma vez no estado, e a partir daí Sergipe passou a ser O PAÍS DO FORRÓ.
Carlos Batalha
https://folhadesergipe.com/

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